"Folhas, chuva, terra molhada, a árvore cuja sob a copa tomamos refúgio da tormenta. Esqueço de tudo enquanto, admirado, percebo cada gota dágua que você espalha pelo ar entre nós quando teatralmente mexe em seu cabelo.
A sua pele, surpreendentemente quente e macia, ao tocar meu braço me faz sentir o propósito da vida. E os seus olhos risonhos ao constatar que meus óculos estavam completamente embaçados só perdiam em beleza para seu sorriso inquisidor.
O tempo era indiferente à nós: não andava e não corria; era como se não existisse. Ali sob aquela árvore, éramos tudo. Éramos partícula e éramos universo. E cada fibra de nossos corpos estremecia enquanto nossos rostos, numa moção inevitável, aproximavam-se vagarosamente.
Então é chegada a hora do encontro do almas que antecede a realização do desejo da carne; a última troca de olhares antecedente à união de lábios.
Nos beijamos e nos abraçamos fervorosamente, porém com nuances de parcimônia, como se o ato fosse uma chama numa noite de frio; nos aproximamos com as mãos esticadas até o ponto em que queimamos as pontas dos dedos, então nos afastamos da fonte de nossa satisfação apenas para recomeçar o bailar da dor e do prazer. Uma dança tão perigosa quanto o das labaredas num incêndio.
No interior de nossos corpos desejos em ebulição aquecem nosso sangue e provocam as mais intensas emoções.
A roupa molhada já não é mais a causa dos meus arrepios. Muito menos os dos seus."
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