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terça-feira, 2 de agosto de 2016

Contos de Airehte. Fragmento IX. Fantasia

Um breve momento de silêncio se seguiu após as palavras de Marue'Nir. Neste intervalo, o arcano aproveitou para dispersar a fumaça da clareira com mais um artefato, facilitando assim observar as expressões faciais e reações dos interrogados. Concentrou um pouco de sua própria energia no objeto arcano, apertou um botão no extensor de ar e o arremessou em direção ao centro da clareira. Assim que o objeto tocou o chão um barulho seco ecoou pela clareira e uma rajada de ar acertou as árvores ao redor da área. O vento também atingiu os três que ali estavam, fazendo as roupas e os cabelos de todos dançarem suavemente com a brisa, de forma semelhante às copas das árvores. Com olhos atentos a todos os detalhes daquela cena, o espião notou que no pescoço da soldado, outrora encoberto pelos longos cabelos castanhos da mulher, existia uma tatuagem de um preto intenso, na forma de uma flecha para cima e com um círculo de cada lado do corpo do projétil, sendo um totalmente escuro e outro apenas a circunferência.

- O que uma sargento das flechas negras está fazendo aqui em Hazifer, além das fronteiras da cidade púrpura, vestida como uma soldado da guarda, numa missão de captura?

A mulher demorou um pouco para responder a pergunta de seu captor. Marue a observou sentar-se com dificuldade, constantemente apalpando a lateral direita do tronco. Mas sua expressão denunciava que algo mais a perturbava além da dor e da ameaça que o espião representava a suas vidas. Orgulho ferido talvez?


- Eu fui designada para acompanhar o pelotão de soldados que partiu de Bras'Illumitene, garantir que o espião fosse encontrado e capturado, se possível.

- Parece que o jogo virou senhorita...? – Provocou o arcano, querendo confirmar suas suspeitas sobre o ego sensível da Sargento

Gilda... Gilda de Chermont’Amell

- Mas você não faz parte das forças da cidade, nem você. - Disse o arcano se voltando para o velho soldado que em nenhum momento tirava os olhos do anel na mão direita do mestiço.

- Nós dois somos de Endogen'Ruri. - Respondeu o soldado, agora encarando o olhar penetrante do arcano. E continuou, sabendo que não adiantava esconder nada do jovem. Aqueles olhos não eram de alguém que se podia enganar.

- Nossa missão era escoltar o portador da carta oficial e assegurar que esta chegasse ao capitão da companhia local.

- Missão que completaram. Mas até aí não explica o fato de ambos estarem aqui agora. Por que não voltaram para a cidadela da Biblioteca Suspensa?

- Quando a carta foi entregue ao capitão fomos notificados que faríamos parte da missão descrita no documento.

- Eles não mandariam dois guerreiros introduzidos nas artes apenas para garantir a prisão de um espião - ponderou o mestiço, falando mais para si do que para os interrogados sentados a sua frente, e continuou - A não ser que soubessem do que eu era capaz e quais eram os meus objetivos.

- Mas eles sabiam exatamente do que você era capaz. - Afirmou a mulher, dando um sorriso - E o mais curioso é que dentre as ordens descritas na carta existia uma que nos impedia de compartilhar as informações sobre você com os soldados.

Marue' Nir não gostou do que ouviu. O fato de saberem do que ele era capaz o preocupava, pois não tinha entrado em combate aberto em nenhum momento durante sua missão em território imperial. Para terem tais informações eles teriam que ter algum agente dentre o comando de inteligência da F.L.R. Entretanto, se isso fosse verdade, as forças inimigas já teriam criado oportunidades bem mais claras de eliminar um agente tão perigoso quanto ele. Não esperariam que o espião saísse do território para ataca-lo no meio da floresta das trevas, a poucos quilômetros de uma cidade inimiga. Só restava uma opção.

- Essas ordens têm relação com o Oráculo de Mármore?

- Isso tem tudo haver com o oráculo. - respondeu o velho, deixando escapar uma risada fraca.

- Como assim? - Perguntou Marue'Nir.

- Ninguém sabe exato quando começou, na Batalha dos Arcos de Pedra ou se foi no Cerco ao Palácio de Mármore, mas o fato é que desde a conquista das terras sob a montanha de Kazel Gogui as missões mais importantes recebem um selo a mais de acordo com a dificuldade: o Selo do Oráculo; Uma carta com uma vela acesa no centro. 

- Eu sei que as cartas de missões do Império recebem selos de militares de diferentes patentes de acordo com a dificuldade e importância das-

- Você vai ficar me interrompendo ou vai me deixar terminar? - Disse a sargento encarando o espião com a mesma intensidade com que ele a olhava.

"Gostei da atitude dela, é uma pena que estejamos em lados opostos" pensou o mestiço, sem deixar transparecer em sua feição a admiração pelo espírito da garota.

- Então termine.

- A "sua carta" tinha o selo de três das figuras mais importantes do Império: O oráculo, o marechal e a rainha.


(Continua)




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